nandofanclub

Dissertações, opiniões, escárnio e mal-dizer, canções de amigo, pensamentos ociosos, odiosos, preguiçosos, o óbvio, o subliminar, a bela e o monstro, eu, tu, ele, aquele, aqueloutro, o que só acontece aos outros, o que só me acontece a mim. Tenho dito.

24.12.04

Depressão - vendo barato, trata o próprio.

deprimido

Já algum de vocês teve uma depressão? Provavelmente. Então quando acabarem de ler estas linhas vão nutrir por mim um ódio ainda maior do que devem sentir agora.
Sempre considerei essas patologias do foro neurológico como maleitas de ricos, ou de quem não tem mais com se preocupar. Imaginem que tinham nascido no meio rural, lá prós lados de Freixo de Espada à Cinta. Imaginem: têm que se levantar às cinco da manhã e ir dar de comer aos porcos com uma malga de sopas de vinho no bucho, para de seguida irem apalpar o cú às galinhas e perspectivar a safra de ovos; segue-se a ordenha de duas ou três vacas mal-dispostas, o encaminhamento das ovelhas para o barbeiro, o banho do touro cobridor, a desinfecção das cavalariças com sabão e palha de aço e, finalmente, as tarefas de plantio e adubagem dos mais variados produtos hortículas. Chegam a casa (ao barraco de madeira), tomam banho numa bacia de estanho, jantam o habitual chouriço cozido com batatas a murro, cumprem os deveres conjugais e adormecem mal o sol se põe. No dia seguinte, a história repete-se.

Cá vai: teriam vocês sequer TEMPO para depressões? Não respondam, a pergunta é retórica. Neste momento temos a primeira conclusão precipitada: depressões e outras paneleirices do género são doenças citadinas.
Serão?...
Vamos para a periferia de Lisboa. O cabo-verdiano Manuel Chibata acorda às cinco e quinze, come uma peça de fruta e apanha o 34 da Carris até à Praça do Comércio, onde tem que apanhar o 80 até ao cais, e onde embarca no cacilheiro rumo à margem sul. Segue-se um derradeiro autocarro que o leva à obra de um condomínio fechado em fase de fixação de alvenaria, onde o Manuel exerce as funções de servente de pedreiro. Passam trinta minutos das sete e já o primeiro balde de massa vai equilibrado na cabeça do trolha insular. Tem meia hora para sorver um prato de sopa de nabos antes de voltar ao serviço. Por volta das dezanove (se não fizer horas extras), percorre o caminho inverso rumo a casa (ao barraco de chapa) em Chelas, onde às vinte e uma horas janta a sua sandes de coirato e certifica-se se o puto mais velho perdeu o vício de fazer chamadas dos telemóveis alheios. O dia seguinte é um clone do anterior.

Segunda conclusão precipitada: depressões e outras paneleirices do género são doenças de classe média/alta citadina.
Serão?...
Margarida Duarte, enfermeira no Hospital de Leiria, levanta-se com o primeiro raio de sol. Toma um rápido duche, veste as crianças, dá-lhes o pequeno almoço e às sete e meia deposita-as no infantário. São oito horas quando entra nas urgências para mais um rotineiro dia de sangue, tripas e ossos partidos. Ao fim da tarde vai ao snack-bar do Sr. Manuel comer qualquer coisa antes de regressar ao hospital – hoje está de serviço, só deverá sair por volta das quatro da manhã. E terá que se levantar três horas depois para levar as crianças ao infantário e voltar ao serviço de urgências. Margarida está três dias por semana de serviço.

Terceira precipitação: depressões e outras paneleirices do género são doenças de ricos citadinos.
Serão?...
...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

" se ja nao tens nehuma felicidade para me dar, ¡bem! ainda tens teu sufrimento" ( Asi Hablo Zaratustra, Nietzsche)...
Eu gosto de pensar que a depreçao é tanto como nietzche falava, acho que nao existe outra enfermedade que a " moral que criam em cada um de nós" e acho que desde issa moral, com os seus limites e paramatros é que somos culpables de alguma coisa que foi criada nao com lamdade, sem nao pela razao de quer sentir ou ter alguma coisa melhor, para mim, a culpa é uma percepçao dos outros...
eu jamas tenho a culpa.. lol ;)

8:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

amigo do coração: vê lá se reservas ai um cantinho para o SONAR! será k vou ter k ser eu a fazer isso?obrigado por tudo!!!!!!és um kido!beijokas grandes da tua amiga, Carolina Matos

10:16 da tarde  

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