nandofanclub

Dissertações, opiniões, escárnio e mal-dizer, canções de amigo, pensamentos ociosos, odiosos, preguiçosos, o óbvio, o subliminar, a bela e o monstro, eu, tu, ele, aquele, aqueloutro, o que só acontece aos outros, o que só me acontece a mim. Tenho dito.

9.2.06

CHE



Há pessoas que desaparecem. Pura e simplesmente. Estamos todos num bar, de JB na mão, a contar anedotas e aventuras rocambolescas e, na manhã seguinte, alguém se esfuma no ar, desaparece sem deixar rasto.

Pior, só mesmo se a pessoa se esfumar literalmente.
Manchester, finais do século XIX. Uma baronesa de setenta e sete anos de idade conversava com a sua empregada interna antes de se deitar. Algum tempo depois, vencida pelo sono, sobe para o seu quarto no primeiro andar da mansarda, onde adormece quase de imediato. Cai o silêncio.
Na manhã seguinte, a fiel criada sobe aos aposentos da baronesa, que fazia questão de ser acordada às oito horas em ponto todas as manhãs. Ao entrar, deparou com um cenário peculiar: fazia-se sentir um odor nauseabundo, as paredes e o tecto estavam cobertas de fuligem e do parapeito da janela escorria uma viscosidade negra que tresandava a algo parecido com enxofre. Na cama os lençóis estavam afastados, o que indicava que a velha senhora se havia levantado. Finalmente, quando olhou para o chão, viu um monte de cinzas de onde sobressaíam farrapos chamuscados da camisa de noite da baronesa. Ao lado, restava um chinelo com o pé direito da septuagenária dentro dele, bem como a parte posterior do crânio e algumas reminiscências de tecido cerebral. O mais estranho é que, tirando o escurecimento pela fuligem, o quarto estava intacto. Nada havia sido destruído pelo fogo, nem sequer existiam indícios de incêndio.
Dois dias depois, o médico legista foi peremptório: Combustão Humana Espontânea.