nandofanclub

Dissertações, opiniões, escárnio e mal-dizer, canções de amigo, pensamentos ociosos, odiosos, preguiçosos, o óbvio, o subliminar, a bela e o monstro, eu, tu, ele, aquele, aqueloutro, o que só acontece aos outros, o que só me acontece a mim. Tenho dito.

2.10.06

O Homem Inexistente



História originalmente composta para formato curta-metragem, mas deixo-vos aqui um resumo do enredo:

Numa noite como tantas outras, sentado numa mesa de café a um canto, um homem como tantos outros desliza o cigarro meio fumado por entre os dedos, enquanto alterna o olhar entre copo de whisky de malte à sua frente, e a sua mão onde tem escritas uma série de palavras. Uma jovem mulher passa a seu lado, dirigindo-se ao balcão para comprar tabaco. Ele olha-a de soslaio, apenas por um segundo, como se nada nela tivesse captado a sua atenção. A jovem sai, pelo mesmo caminho, em direcção à rua. Ele apaga o cigarro, deixa umas moedas na mesa e sai também.
A rapariga calcorreia a calçada, serena e despreocupada, sem reparar que, a cerca de 10 metros atrás de si, aquele homem segue os seus passos, acendendo um cigarro como se seguisse o seu próprio caminho. Ela nunca se volta para trás, não sente a sua presença, como se ele não estivesse realmente lá.
Ela chega a casa, abre a porta e entra. O homem aproxima-se da porta por onde a jovem entrou. Agarra na maçaneta, roda-a e a porta abre.
Encontra-se numa sala, onde pode ver um sofá, estantes com livros, uma televisão, alguns objectos pessoais, e fotografias onde se encontra a dona da casa com o que parecem ser amigos e familiares, em diversas circunstâncias, bem como um diploma de universidade. Ele explora um pouco esse mundo de memórias, observando as fotografias, os livros, as revistas, e detendo-se um pouco mais no diploma.
Pelo corredor observável da sala através de uma arcada, a jovem circula, primeiro do quarto para a casa de banho, e depois no sentido contrário, já enrolada numa toalha. Tudo isto enquanto o estranho se movimenta pela sala. Durante as passagens pelo corredor, esse estranho está ao alcance da vista da rapariga, mas ela nunca direcciona o olhar para a sala, tal é a improbabilidade de lá estar alguém.
Já sentado no sofá, ele recebe a companhia de um gato, que se enrola nas suas pernas. Ele debruça-se e acaricia o pêlo do animal. Pousa o objecto que tinha nas mãos (um álbum de fotografias), levanta-se calmamente e dirige-se para o quarto. Ela dorme serenamente. O estranho senta-se na beira da cama, aconchega-lhe o cobertor, afaga-lhe o cabelo, e beija-a na testa em tom paternal.
Bruscamente, debruça-se sobre ela.
Na casa de banho, encontra-se inclinado sobre o lavatório, onde escreve algo a caneta na mão, junto de outras palavras que já lá estão escritas. Essas palavras são nomes de mulheres, e ele acrescenta o nome da dona da casa: Isabel. Finalmente, e pela primeira vez, rasga um sorriso cínico e aterrador.