nandofanclub

Dissertações, opiniões, escárnio e mal-dizer, canções de amigo, pensamentos ociosos, odiosos, preguiçosos, o óbvio, o subliminar, a bela e o monstro, eu, tu, ele, aquele, aqueloutro, o que só acontece aos outros, o que só me acontece a mim. Tenho dito.

21.3.06

O macho, esse enfermo



Nós homens (sim, a metade masculina do ser humano) encontramos um precioso subterfúgio para um merecido retorno à doce infância: ficarmos doentes.
Mas há uma condicionante: qualquer que seja a maleita, terá de ser abalo suficiente para nos tombar na cama por mais de 24 horas. Aí, no nosso trono de tormento, bradamos aos céus o mal que sobre nós se abateu, entre gemidos e manifestações de vulnerabilidade. É o regresso trágico ao berço, de onde exigimos carinho, aconchego e comida levada à boca. E retribuímos com baba e ranho, num insaciável pranto de sofredor que, com a perspectiva do fim dos seus dias, chantageia atenção redobrada.
É quase desumano obrigar um homem a combater a mariquice subjacente à enfermidade – será sempre uma luta ingrata, pois nada há de mais doloroso do que esgrimir contra a nossa natureza. Está-nos no código genético. Já dizia a minha avó: “na doença, todo o homem é larilas” - por isso, nunca gostei de hipocondríacos…

7.3.06

Cortesã



Hoje é o meu aniversário
e a prenda vem a caminho
devagarinho.
Serás o corolário da comemoração.
As tábuas rangem de mansinho, denunciando a aproximação.

A minha escolha foi de antemão.
A opção da diabrura caiu na tua frescura
- ou o meu olho falha, ou não tens calo na profissão.
As tuas mãos tremem contra o corrimão da escadaria.
Temes o que te aguarda
corrói-te a perdição.
Ferve numa correria o sangue cortesão
da nova cativa da mansarda.

Nem anjo da guarda, nem fé ou convicção
exorcizam os demónios que te dançam no olhar.
O torpe caminhar tem na porta interrupção
oh não, já vieste longe demais para voltar.
É altura de entrar – estende a mão
vem-te entregar.