O silêncio é de ouro, quando não é de latão

"O silêncio é de ouro". Há quem diga também que "os olhos são o espelho da alma". Chavões com piada, sem dúvida. Cá vai outro de contornos bíblicos: "no início era o verbo".
Será que os actos suplantam as palavras? Poderão ocupar ocasionalmente o seu lugar. Por vezes, uma expressão irada será mais eficaz e fulminante do que um eloquente monólogo; um piscar de olho será suficiente para definir intenções - neste caso, as palavras que se seguem serão consequência directa da prévia expressão corporal. Por vezes, nem é necessário haver premeditação: um tique nervoso ou uma pertinente dificuldade em fitar os olhos do interlocutor, podem denunciar uma falsidade nas frases proferidas.
Tudo é comunicação. Desde o dedo médio em riste com que um condutor presenteia outro, passando pelo grunhido monossilábico de quem não percebeu a pergunta, pelo sugestivo cruzar de pernas presente na linguagem da sedução, pelo nervoso bater da caneta na mesa quando o exame se transforma num pesadelo inquisitório, acabando num demagógico e sonolento discurso à nação nas vésperas da ida às urnas.
Quer queiramos, quer não, basta estar vivo para comunicar, directa ou indirectamente. Mesmo a intensidade da respiração pode fazer transparecer o nosso estado emocional para o exterior. Assim sendo, e porque “em terra de cegos quem tem olho é rei”, ou então é ciclope, quem atingir o total controlo das suas palavras e acções, tem o mundo na mão.